A Polícia Civil do Piauí indiciou o grupo formado pelo suplente de vereador de Nazária, Cícero da Silva Rocha (MDB), o empresário Wanderson Fernandes Lima Negreiros, Raimundo Lopes Bezerra Filho e Danilo Ferreira e Silva, pelos crimes de estelionato e associação criminosa. O inquérito policial, concluído no dia 18 de maio pelo delegado Humberto Mácola, da Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI), aborda um esquema criminoso que gerou prejuízo a instituições bancárias e vítimas com a celebração fraudulenta de contratos de financiamento de veículos.
Os alvos dos golpes perpetuados pelo grupo eram pessoas desempregadas, que sob a promessa de uma ocupação, forneciam seus dados para os indiciados, na esperança de conseguir um trabalho. Segundos depoimentos de algumas vítimas, Cícero Rocha exercia influência na empresa CTA, que presta serviços na cidade de Teresina, e que lhes ajudaria a arrumar um emprego.

Por sua vez, os acusados utilizavam as documentações enviadas por essas pessoas para elaboração dos contratos fraudulentos, simulando a compra e venda de veículos, para obter o financiamento dos automóveis. Enganados pelos acusados, as vítimas só descobriram a fraude meses depois, com a cobrança das instituições financeiras pelas parcelas não pagas do financiamento, exigindo o pagamento de uma dívida que eles não efetivaram.

Ao longo das investigações, foram apreendidos dispositivos eletrônicos de Raimundo Lopes e Cícero Rocha. Em depoimento, o primeiro afirmou que conhece Danilo, e fazia diversas corridas para ele, mas negou a participação nos contratos e transações financeiras feitas pelo mesmo. Já o segundo declarou que não tem nenhum tipo de relação com os citados no inquérito.
Foi destacado ao longo do inquérito policial que todos os indiciados chegaram a ser alvos de mandados de prisão durante a operação que investigava o crime. Eles também já foram investigados e indiciados por estelionato em outro procedimento da Polícia Civil do Piauí, em que usavam o mesmo modus operandi de enganar as vítimas e utilizar os dados delas para obter vantagens ilícitas.
Funções de cada membro do grupo
Conforme apresentado no relatório de missão policial, Danilo Ferreira era o principal articulados do crime. Ele era o responsável por se encontrar com as vítimas, sob a promessa de conseguir um emprego para elas, ocasião em que fazia uma colheita de biometria facial. Raimundo Lopes agia no esquema fornecendo apoio logístico, operacional e estratégico para realização das fraudes, acompanhando o primeiro acusado em muitas das ações, se apresentando como dono de uma empresa prestadora de serviços.

O suplente de vereador, por sua vez, na época vice-presidente da Câmara de Nazária, usava seu cargo e influência para aferir credibilidade ao grupo, prometendo empregos e também coletando dados das pessoas. Por último, o empresário Wanderson fornecia e ao grupo, obtendo as informações necessárias para a realização das fraudes.
Golpe foi descoberto
Em dezembro de 2022, a proprietária da Loja Camelo Veículos identificou a irregularidade entre três contratos realizados com os bancos Santaner e BV Financeira, negociado por Danilo Ferreira. Na época, ele trabalhava como “corretor de rua” no estabelecimento, apresentando falsos clientes para simular negociações de compra e venda de veículos para obter financiamentos bancários.
Os prejuízos totalizaram R$ 85.323,00 (oitenta e cinco mil e trezentos e vinte e três reais). Esse montante foi recebido em contas bancárias do indiciado, fruto do esquema de fraudes. Ele era o responsável por apresentar “laranjas” na loja, com documentação pessoal e de veículos fornecido por terceiros – verdadeiros proprietários dos carros, que não tinham conhecimento da negociação. Depois que o contrato era formalizado e os veículos eram financiados, acabavam sendo alienados fiduciariamente pelas instituições financeiras.
A fraude só era descoberta pelos donos dos carros quando eles tentavam realizar vendas regulares junto ao Detran, ou ao solicitarem baixa do gravame. Uma das vítimas, identificada pelas iniciais J.L.J. de A., relatou que anunciou a venda de seu veículo em janeiro de 2023, e um rapaz foi até sua casa se ando por comprador, tirou fotos do automóvel e disse que iria comprá-lo, mas não apareceu mais.
Dois meses depois, ele conseguiu vender o veículo, mas ao se dirigir ao Detrans para fazer a transferência do automóvel, foi surpreendido com a informação de que havia um gravame no veículo de alienação fiduciária da BV Financeira. Para evitar arcar com o prejuízo, a vítima ingressou com ação cível e conseguiu provar que nunca vendeu o carro, e que o contrato de financiamento feito com a documentação do automóvel era fraudulento, motivo pelo qual o banco retirou a restrição.
Outros três contratos fraudados
Além dos contratos fraudados junto à Loja Camelo Veículos, também foram registradas irregularidades em outros três contratos iniciados em outra empresa, preenchidos com documentação levada por Danilo Ferreira. Nesse estabelecimento, os acordos totalizaram R$ 62.000,00 (sessenta e dois mil reais).
Da mesma forma do relato da vítima mencionada anteriormente, os donos dos veículos envolvidos nas fraudes descobriram que seus veículos estavam alienados quando foram tentar vendê-los de modo lícito.
Indiciamento
Segundo o delegado Humberto Mácola, o esquema de fraude orquestrado pelos indiciados era bastante organizado. “A comparação entre os dois inquéritos policiais revela que os investigados possuem uma atuação coordenada e estruturada, com divisão de tarefas e planejamento prévio das ações criminosas. Essa reiteração criminosa demonstra um desprezo sistemático pela lei e muita periculosidade social, evidenciando a necessidade de uma resposta penal rigorosa para proteger a sociedade e desestimular a prática de novos crimes”, fundamentou o delegado.

Grupo já tinha sido preso por aplicar golpe usando nome da Agespisa
O empresário Wanderson Fernandes Lima Negreiros, Raimundo Lopes Bezerra Filho e Danilo Ferreira e Silva, já foram presos no ano de 2023 pela Delegacia de Repressão e Combate aos Crimes de Informática (DRCI). Nessa operação, eles foram acusados de aplicar golpes utilizando o nome da Agespisa, com o mesmo modus operandi pelos quais foram recentemente indiciados.
Conforme denúncia apresentado pelo Ministério Público do Piauí, eles atraíam pessoas mediante promessa de emprego na Agespisa, e, munidos dados pessoais das vítimas, firmavam contratos de financiamentos de veículos.
Outro lado
Procurados pelo GP1, o suplente de vereador Cícero da Silva Rocha e os empresários Wanderson Fernandes Lima Negreiros, Raimundo Lopes Bezerra Filho e Danilo Ferreira e Silva não foram localizados para comentar sobre o caso. O espaço segue aberto para esclarecimentos.
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